Sei que alguns debaterão o que digo simplesmente porque são intransigentes; outros porque ainda não conheceram a dor de circunstâncias aparentemente sem explicação e com cara de "abandono de Deus"; mas sei que para a maioria dos leitores estas verdades serão recebidas como um bálsamo divino. E oro para que sejam um instrumento de restauração e edificação em sua vida.
Não escrevo defendendo e nem acusando ninguém. Só quero que as muitas vítimas da injustiça de alguns cristãos (que criam explicações simplistas e falam daquilo que não entendem e não viveram), possam ter alento. O que compartilho neste livro não é, necessariamente, a resposta para cada circunstância adversa; mas além de ser a resposta para muita delas, é também uma tentativa de mostrar que nosso atual universo de raciocínios e explicações dos fatos da vida cristã está longe de ser completo; é limitado, pobre, cego, e deve nos lembrar de que carecemos buscar em Deus mais revelação de sua Palavra.
Vivemos dias em que a fé evangélica tem crescido e se espalhado grandemente. Graças a Deus por isto! Mas temos que reconhecer que este crescimento numérico tem se dado numa velocidade e intensidade muito maior do que a capacidade da Igreja de fazer crescer em maturidade. O próprio crescimento gera inúmeros problemas e, na busca de uma melhor acomodação dos novos convertidos para que não se perca a oportunidade de crescer, uma nova geração de ministros está sendo formada.
Não com um embasamento forte na Palavra, mas com o estritamente necessário para atender a demanda. E isto tem trazido ao arraial do povo de Deus um evangelho diluído, simplista. Há uma diferença entre o evangelho simples, que toca o homem diretamente nas suas necessidades e que dispensa qualquer intelectualismo, de um evangelho simplista que tenta dar respostas diferentes da Bíblia, e que ao tentar simplificar as questões esquece-se que está lidando com gente que pensa, que tem emoções, sentimentos.
E assim estamos edificando uma geração confusa, machucada, cheia de dúvidas e até de descrença - embora para se fugir do inferno as pessoas aprendam a conviver e até mesmo conformar-se com elas.
Algo precisa sacudir-nos de nossa prepotência de acharmos que podemos entender Deus e sua forma de agir e ditar sempre e até antecipadamente como serão as coisas. Se algo acontece com alguém, sabemos porquê aconteceu; se deixa de acontecer sabemos exatamente o porquê não aconteceu; temos respostas para tudo!
Não posso negar que o reino espiritual é regido por princípios, e que sempre tais princípios serão imutáveis; mas há uma grande diferença entre vê-los funcionando e achar que são eles em operação!
Por exemplo, se alguém peca contra Deus, vai colher as conseqüências, que variam em função do comportamento da pessoa, se ela se arrepende ou não. Davi pecou adulterando e matando um amigo, foi perdoado por Deus (o que remove a mancha da culpa) mas colheu as conseqüências que lhe foram anunciadas pelo profeta Natã. Em uma outra situação (na carta à igreja em Tiatira) vemos Jesus repreendendo o pecado de uma mulher chamada Jezabel, e dizendo que no caso dela não se arrepender, seria julgada e prostrada de cama, num leito de enfermidade.
O pecado sempre tem conseqüências. Se me arrependo sou perdoado mas, ainda assim, colho as conseqüências. No caso de não me arrepender serei julgado. São situações diferentes, mas sempre haverá conseqüência. Pelo pecado de alguém podemos saber que haverá conseqüências e até prevenir a pessoa disto, mas o que não posso aceitar é a análise inversa; pelas circunstâncias que alguém está vivendo, tentar dizer se ela está ou não em pecado. É um campo onde não podemos entrar, além de que não cabe a nós julgar!
A Igreja do Senhor tem falhado muito nesta matéria nestes dias... São respostas simplistas para tudo. Se alguém não recebeu a resposta à sua oração, é falta de fé. Se algo negativo aconteceu foi o diabo e é porque houve brecha espiritual. Se as coisas não estão bem é porque a pessoa está em pecado. E assim por diante. Muitas vezes o que está acontecendo PODE ser uma destas coisas, mas não quer dizer que seja sempre só isto!
Não podemos nos considerar doutores na psicologia divina. Alguns são assim, parece-nos que chegam ao ponto até mesmo de se antecipar ao que Deus vai fazer. Neste caso Ele fará assim, no outro fará assado... mas os caminhos de Deus são mais altos que os nossos e seus pensamentos também! Paulo declarou aos coríntios: "Se alguém julga saber alguma cousa, com efeito não aprendeu ainda como convém saber" (I Co.8:2).Ninguém pode agir como um "sabe-tudo" em relação às coisas de Deus, principalmente em relação ao seu agir que é personalizado.
Voltemos a confiar na soberania de Deus e a aceitar que nem sempre teremos as respostas, mas sempre poderemos caminhar na certeza de que Ele tem o melhor para nós, quer o entendamos, quer não.
O fato é que o rei Salomão era a pessoa mais indicada para nos dar a pista de que o agir de Deus nem sempre é visto e compreendido pelo homem, não importando quão sábio ele seja. Observe:
"Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no ventre da mulher grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas."
Eclesiastes 11:5.
Três coisas são mencionadas como algo que "não sabemos": o caminho do vento, a formação dos ossos de uma criança ainda no ventre materno, e o agir de Deus.Na verdade, com a expressão "não sabes", entendemos que o escritor falava de coisas que "não vemos". Podemos saber o caminho do vento através do balançar das folhas de uma árvore, pelas evidências de que ele sopra, mas nunca por ser visível aos nossos olhos. O caminho do vento em si é algo oculto à nossa visão, ocorre fora do alcance da vista dos olhos.
Semelhantemente, a formação óssea de um bebê ocorre fora da vista dos nossos olhos; não podemos ver como ela se dá. Creio que a expressão"não sabes" que o rei sábio usou estava apontando para "o que não vemos", senão nem contemporânea seria esta afirmação, pois hoje a ciência tem trazido uma perfeita explicação da formação óssea do feto; podemos "saber", mas continuamos impedidos de ver.
Lembro-me que durante a gravidez de nosso primeiro filho minha esposa e eu fizemos duas ecografias e pudemos ver a formação física do Israel mesmo antes dele nascer. Contudo, mesmo com todos estes recursos da ciência moderna, a formação óssea do feto – e não falo da certeza que isto ocorre e nem de como ocorre, mas sim do processo – encontra-se fora da vista de nossos olhos. É algo semelhante ao caminho do vento. Podemos saber que ocorre e até ter evidências disto, mas é oculto aos nossos olhos; o que nos leva a defini-lo como invisível.
Com o agir de Deus não é diferente. O texto bíblico diz que Deus age em todas as coisas. Depois o versículo nos deixa claro que as duas menções anteriores de coisas ocultas aos nossos olhos, eram apenas um paralelo que ilustra o agir divino. Deus age sempre e em todas as coisas, porém, nem sempre este agir será visível aos nossos olhos, pois o que o caracteriza é esta sua definição bíblica de que é invisível.
Em nossos dias tenho visto o prejuízo da falta de conhecimento deste princípio e também da falta de temor de Deus. Como pastor ouço pessoas dizendo coisas absurdas com: "Ah, eu já coloquei Deus na parede; se em tanto tempo Ele não me atender, eu...". Dá vontade de dizer para alguns: - "Você o quê? Que ameaça é esta? Se Ele não fizer o que você quer, você faz o quê? Dá as costas para o Senhor e vai para o inferno? Quais são suas opções?"
É incrível a falta de respeito com a qual muitos se dirigem a Deus. Os papéis andam trocados. Pelo comportamento destas pessoas parece até que Deus já não é mais Senhor, mas simplesmente um secretário. Está errado; quem está na condição de servo somos nós e não Ele!
Sabe, há o ensino bíblico da fé, e eu creio nele, pois afinal de contas o que é bíblico é o conselho de Deus e ponto final. Creio no que Jesus ensinou sobre falar à montanha; creio em dar ordens aos problemas e obstáculos para que se movam de nossas vidas e sejam lançados no mar.
Contudo, é um absurdo confundir as coisas e achar que podemos dar ordens para Deus! Ninguém dá ordens a Deus. Diante dele todos devem se calar. Ele é soberano. Ele é santo. Ele é Deus. Ele é todo suficiente. Faz o que quer, como quer, quando quer. A Igreja precisa reaprender isto!
Sei que há promessas e princípios bíblicos que já são uma revelação da vontade divina, e que em situações onde eles podem ser indiscutivelmente aplicados, não precisamos orar para descobrir qual é a vontade do Senhor e o quê Ele quer fazer. Mas mesmo quando já sabemos o quê Ele quer fazer, nem sempre poderemos entender COMO Ele vai fazer o que quer, ou mesmo QUANDO isto se dará.
A forma de agir de Deus nunca foi e nunca será previsível. O homem não pode compreender o agir de Deus com sua mente e raciocínio, pois a operação de Deus está muito acima do nosso entendimento.
Quando Salomão mencionou o agir invisível de Deus, não disse que o Senhor deixa de agir nas circunstâncias onde pareça ausente, mas sim que nós não podemos VER sua operação. Não se trata de Deus deixar de agir, mas sim de fazê-lo de tal forma que nós não o vemos em ação.
Em lugar algum da Bíblia nos é apresentada uma ação divina padronizada. Não vemos o Senhor lidando com as pessoas por atacado, mas justamente o oposto. Cada pessoa e cada situação é tratada por Deus com carinho e criatividade. Há um agir personalizado e isto é inegável. Mesmo nas guerras e batalhas (acontecimentos muito comuns e repetidos nas páginas do Velho Testamento), nunca vemos duas intervenções divinas que sejam iguais.
Para cada situação houve uma intervenção diferente, embora os resultados finais fossem similares. O que concluímos é que mesmo quando a vontade expressa de Deus era livrar seu povo das mãos do inimigo, a forma como Ele faria era sempre um mistério. Ou seja, mesmo quando sabemoso quê Ele quer fazer, não podemos saber como irá fazê-lo.
O que necessitamos então, é parar de achar que Deus nos deva satisfação do seu agir. Ele age sempre e em todas as coisas (circunstâncias). A parte que nos cabe é crer e esperar sua manifestação, e não exigir que o Senhor mostre qual a forma de operar que foi adotada.
Há muita gente cobrando de Deus uma explicação para o que eles não entendem. Só que o Pai nunca prometeu que daria explicação de como Ele estaria operando. As únicas coisas das quais Ele falou foi que podíamos ter como certo é que Ele agiria, e enquanto Ele trabalhasse de forma INVISÍVEL aos nossos olhos, que nós crêssemos.
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